20 de Agosto de 2020, 10:22
  -  Crime - Brasil
'Preferem condenar uma criança de 10 anos do que garantir a ela um mínimo de dignidade', diz promotora

"Falhamos". Essa é a avaliação da promotora Tarcila Santos Teixeira, sobre a responsabilidade da sociedade e do Estado, prevista na Constituição, de garantir proteção integral a crianças e adolescentes, entre elas a menina de 10 anos que engravidou após ser estuprada no Espírito Santo. Trabalhando há oito anos com casos de violência sexual contra crianças e adolescentes no Paraná, Tarcila entende que tal 'derrota' tem forte ligação com questões como preconceito, misoginia e desinformação - e no caso da menina de São Mateus 'uma boa pitada de fanatismo religioso'. "Preferem condenar uma criança de 10 anos do que garantir a ela um mínimo de dignidade', diz.


Tarcila e outros especialistas consultados pelo Jornal avaliaram o cenário da violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil à luz do caso que ganhou repercussão nacional nas últimas semanas. Eles frisam que a situação não é isolada, que deve-se cobrar a responsabilidade de todos sobre o combate a tais tipos de abuso e ainda apontam falhas em políticas públicas voltadas ao tema. Sobre a questão do aborto, que acabou ganhando centralidade na discussão, destacam que o procedimento é previsto em lei, defendendo que a sociedade cobre a disponibilidade do atendimento e a atenção do Estado para o tema.


No entendimento da promotora do MPPR, especialista em proteção Integral à criança e ao adolescente, houve no caso do Espírito Santo uma 'fragilidade' do sistema em amparar a menina. Ela destaca ainda que a violência sofrida pela criança corresponde a um padrão que se repete na maioria dos casos, levando em consideração a extensão do abuso, a idade, o perpetrador (integrante da família) e o fato de a violência ser praticada 'na clandestinidade, sem marca visível'.


"Esse caso até me causa certa perplexidade, porque a reação das pessoas se apega a questão da criança ter engravidado - e portanto há uma materialização que choca a sociedade, cobra da sociedade e põe a sociedade numa posição de dar conta de suas mazelas -, quando a gente sabe que esse abuso contra essas crianças é uma coisa muito comum. Mas é algo que está dentro de um contexto de invisibilidade, inclusive consciente. As pessoas não querem falar sobre", afirma.


A criança é a vítima em todos os sentidos, ressalta Tarcila. Segundo a promotora, é necessário atacar a violência sexual contra crianças e adolescentes em diferentes frentes, principalmente trabalhando com a ideia de prevenção, orientação e informação. Além disso, a especialista aponta para a necessidade de investimento em políticas e serviços públicos especializados, tendo em vista que o impacto dos graves abusos na vida das vítimas - "pode ser o que ouso chamar de morte em vida. É uma tristeza que é plantada dentro do coração dessas crianças e isso não está sendo trabalhado adequadamente", diz.

Fonte: Estadão

BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO
BANNER PUBLICITÁRIO