O conteúdo usado por hackers para extorquir cifras milionárias do padre Robson Oliveira Pereira, de 46 anos, que comandava a Basílica do Divino Pai Eterno em Trindade, na Região Metropolitana da capital, cita dois supostos casos amorosos do pároco, segundo informações e depoimentos colhidos pela Justiça de Goiás junto ao Ministério Público estadual e à Polícia Civil, que investigaram as mensagens e os pagamentos feitos aos hackers. Ao total, o padre teria pago R$ 2,9 milhões com dinheiro doado por fiéis à Associação dos Filhos do Divino Pai Eterno (Afipe) em troca do arquivamento das mídias, sendo parte em dinheiro.
A defesa do padre disse ao jornal que "o padre Robson foi vítima de extorsão, tendo buscado suporte da Polícia Civil, que monitorou as transações, e culminou na prisão dos extorsionários. Já houve sentença e os criminosos foram punidos pelo Judiciário com severidade. Não havia qualquer conteúdo verídico como objeto das ameaças".
O valor usado no pagamento foi recuperado e está depositado em conta judicial, aguardando liberação para retornar às contas da Afipe, segundo a defesa.
Um dos relacionamentos amorosos apontados pelo juiz Ricardo Prata na decisão, seria com o próprio hacker que invadiu os celulares e e-mails do padre. O magistrado narra no documento que a informação foi realçada pelos hackers à época do processo de julgamento, em 2019. Naquele ano, cinco pessoas foram condenadas pelo crime de extorsão.
"Observa-se que os acusados foram responsáveis por transmitir as ameaças à pessoa da vítima [Robson], por meio de mensagens em aplicativos e e-mails. Nessas, disseram os acusados que a vítima possuiria relacionamento amoroso com diversas pessoas, inclusive com o próprio Welton", diz o magistrado no documento.
Welton Ferreira Nunes Júnior era o hacker considerado chefe do esquema que cobrou R$ 2 milhões do padre para não revelar os supostos casos amorosos à sociedade.
O documento traz um segundo romance usado no esquema da chantagem. Em depoimentos ao Ministério Público estadual, um policial civil que estava na investigação e uma pessoa próxima ao padre disseram que os hackers encontraram uma foto dele com uma mulher, também do círculo de amizade do pároco, e uma conversa relatando situações amorosas.
"Ele [Robson] me mostrava [mensagens]. Um dos vídeos, vamos lá, um deles né, parece que era um vídeo gravando a tela de outro celular, onde tinha uma foto do padre com a [mulher] próximos um ao outro, e suposta troca de mensagens amorosas, né?", relatou a pessoa ao MP.
A existência da foto foi confirmada posteriormente pelo hacker em depoimento ao Ministério Público.
"Tinha foto dele com uma moça. Ela falando da data do primeiro encontro dele, essas coisas", narra o hacker.
O juiz Ricardo Prata afirma que as ameaças intimidaram o padre Robson a ponto de ele efetuar pagamentos de expressivos valores para fazer a vontade dos chantagistas.
Diante das extorsões que duraram dois meses, o magistrado diz que "o padre se viu, por diversas ocasiões, incapaz de celebrar missas e continuar com o seu trabalho, por ter sido afetada pelos amedrontamentos para denegrir sua imagem pessoal e como sacerdote".
O pagamento milionário aos hackers com dinheiro doado por fiéis levantou suspeitas por parte do Ministério Público, que começou a investigar os gastos da Associação Filhos do Pai Eterno e apontou suspeitas de que os recursos foram usados pelo padre Robson para comprar uma casa na praia, fazendas e outros itens de luxo. O padre pediu afastamento da associação, que cuida do Santuário Basílica de Trindade, para colaborar com as investigações do Ministério Público.
Segundo o MP, dois hackers conseguiram invadir o celular e o computador pessoal do padre. As extorsões começaram no dia 24 de março de 2017. Um hacker, sob a alcunha de "Detetive Miami", enviou um e-mail ao religioso pedindo R$ 2 milhões para não revelar informações pessoais dele, entre elas, um suposto caso amoroso do padre.
Fonte: G1-GO